[corpo exausto ou covid]

Ariane Almeida
2 min readMar 5, 2021

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não refiz o exame ainda. semana passada, quando a cabeça pesava de tanto espirrar, o teste se mostrou negativo. como um vírus que não aceita descuido, como de fato o é, dias após o respirar sossegado, chega o alerta: a amiga positivada, o namorado com febre ao meu lado na cama.

pouco importa de onde vem isso tudo, acredito. a realidade é que parece estar por aqui – sinto o corpo cansado ao acordar. todas essas palavras são um esforço tremendo, devo dizer. pensei no início da semana em organizar frases sobre determinado assunto e, embora ainda sinta que preciso, não consigo agora. como na mesma época, dois anos atrás, minhas articulações doem. simplesmente doem, como se o vírus de hoje conversasse com o daquele período. corpo da gente é mistério profundo, né? criamos disciplinas, mas só vamos aprendendo de fato com muita muita muita observação.

por hora tenho olhado para algumas coisas: todo dia conto o tempo que falta para me libertar, torço para que as horas passem com menos sofrimento, repenso aquilo que vinha fazendo no automático e me pergunto se ainda me cabe, especialmente nessa situação (que não é exatamente a doença e sim a vida). pedi livros emprestado, ainda que tenha alguns títulos na fila. resgatei um da prateleira, quem sabe comece ainda hoje. participei de reuniões, dessa vez me pus mais silenciosa e me parece uma boa atitude não estar sempre à frente da batalha. mexi muito no controle remoto e, com atenção, venho percebendo o quanto minhas mãos estão rígidas segurando dispositivos desse tipo, como se a tensão fosse necessária para apertar um botão, mudar de canal, desistir da história que não me parece interessante. apegos, apegos, apegos – hoje mesmo é lembrança de alguém que amei, e amanhã também será… deixo ir o pensamento… sou outra, sou a mesma, sou quem? impressionante como uma coisa parte da outra, que daí vai a outro lugar, é isso tudo acontece no silêncio. ficar de cama talvez seja a forma que nosso corpo apela pro repouso, para que a gente não deixe o que importa passar de vez e o que é ruído, que se vá.

bem, é quase isso – cansei de novo. vou tomar um banho, aferir a temperatura, tomar água de côco, quem sabe iniciar outra história…

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